Carta do segmento audiovisual amapaense
em repúdio ao senhor João Porfírio Freitas Cardoso
O audiovisual
amapaense vive um momento de considerável expansão e aprimoramento de
seu tripé formação, produção e distribuição. O nível de organização e de
participação dos agentes culturais do segmento e sua consequente
presença mais efetiva nos espaços de debate da cultura amapaense também
tem se ampliado. Esses avanços se refletem em uma interação mais ampla
com os demais segmentos culturais e o estabelecimento de canais de
diálogo com o poder público.
Contrariando
esse momento de amadurecimento que o segmento vem construindo em nosso
estado, o ex-presidente do Conselho de Cultura do Estado do Amapá
(CONSEC-AP) João Porfírio Freitas Cardoso
fez a seguinte declaração, em reunião do segmento Afrodescendente e
Culturas Populares realizada no dia 27/02/0212 nas dependências do
referido órgão:
“O audiovisual reivindica cadeira [no conselho de cultura do Estado do Amapá]?
Reivindica. Mas não tem legitimidade de reivindicar, por que não fez
por onde, não foi atrás de produção. Criaram um bocado de cineclube aí,
pegaram um monte de filme de fora e saíram passando por aí...mas não tem
produção” (Transcrição feita a partir do áudio gravado da referida reunião e disponibilizado pelo CONSEC-AP)
A
declaração é curta, mas traz consigo erros graves e demonstram um
drástico desconhecimento de causa por parte de seu autor a respeito das
características do audiovisual. Apesar de não ser perceptível na
declaração transcrita, ela foi feita em uma sala chamada “Plenária
Antônio Munhoz”. O professor Antônio Munhoz foi um dos fundadores do
primeiro cineclube do qual se tem notícias no estado do Amapá, o
cineclube Humberto Mauro, na década de 1970, mostrando que há muito as
práticas audiovisuais estão presentes na história do estado que, a
época, ainda era Território Federal.
Além
desse deslize histórico, a fala é rasa por ignorar vários outros
avanços, esses bem mais atuais, que vem fazendo parte da rotina do
audiovisual no estado. Abaixo traçamos um breve panorama desses
progressos:
Desde
2004, o Amapá vem se inserindo de maneira contundente nas esferas de
reflexão, debate e produção do audiovisual nacional. Um marco nesse
processo foi a fundação da Associação Brasileira de Documentaristas e
Curtametragistas trazendo ao estado a única entidade do audiovisual
brasileiro presente em todas as unidades federação, possibilitando
assim, que o edital federal do DocTV pudesse ser acessível ao realizador
independente do Amapá. A entidade é ainda filiada ao Congresso
Brasileiro de Cinema e ao Conselho Nacional de Cineclubes.
Os
agentes do audiovisual amapaense realizam também, desde 2004 o FIM –
Festival Imagem-Movimento, esse evento que, junto com o Festival
Internacional de Cinema de Manaus, são os dois festivais mais antigos da
região norte, garantindo ao estado do Amapá a presença no Guia
Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo. Este mesmo evento recebeu, em
2010, certificação com o selo Cultura Viva, concedido pelo Ministério
da Cultura, como uma das 120 melhores iniciativas de comunicação e
cultura de todo o país.
O
ano de 2011 representa um momento histórico para o segmento no estado.
Em seu transcorrer, os cineclubes se expandiram, ao mesmo tempo em que
os realizadores independentes diversificaram quantitativa e
qualitativamente sua produção. Em uma análise rápida podemos mapear pelo
menos 11 cineclubes em atividade e mais de 20 filmes realizados em
2011. Outro passo importante, dado ano passado, foi a realização do 1º
Seminário Amapaense de Audiovisual, evento estruturante do segmento que
reuniu sociedade civil organizada, indígenas, organizações formais e
informais da área, poderes públicos, Ministério da Cultura (SAV –
Secretaria do Audiovisual), cineclubes, TVs escolas, representantes de
locadoras de filmes e TVs abertas. O evento construiu um amplo lastro
para que o segmento pudesse qualificar seus agentes, pontuando metas
para a profissionalização e expansão do audiovisual no estado pautada em
três esferas de atuação: formação, produção e distribuição. Nesse
sentido, tentar desqualificar a prática cineclubista fez o ex-presidente
do Conselho de Cultura do estado incorrer em dois erros graves:
1)
Desmerecer a prática cineclubista é ignorar sua função transformadora
da sociedade que busca a construção de uma autonomia dos sujeitos
sociais e a implementação da cidadania cultural e da democratização da
comunicação, notadamente em um estado como o Amapá, que conta com 16
municípios, sendo que apenas dois deles possuem salas de cinema.
2)
Limita o conceito de audiovisual a apenas uma de suas linhas de atuação
que é a exibição (distribuição/veiculação), negligenciando a formação e a produção, áreas em franca expansão no estado;
A
produção amapaense vem circulando inclusive em canais educativos de
referência na radiodifusão profissional brasileira como a TV Cultura, o
Sistema S e TV Brasil, os filmes veiculados nesses canais foram
realizados com recursos federais conquistados via editais Doc TV e
Etnodoc resultando em 3 filmes realizados pelo primeiro e dois pelo
segundo.
Apesar
da sabida velocidade/estabilidade da conexão de internet no Amapá, os
agentes do audiovisual local chegam a possuir contas em sites de
hospedagem com mais de 50 vídeos postados, ultrapassando a cifra de
10.000 acessos computados.
Dando
um passo a mais na direção de socializar informações que possam
qualificar a próxima fala sobre audiovisual do ex-presidente do Conselho
de Cultura, disponibilizamos, ao fim deste documento, uma lista dos
trabalhos independentes realizados no Amapá no ano de 2011, acompanhados
da indicação de seus respectivos diretores e dos cineclubes em
atividade. A média de produção do segmento é de mais de quase dois
filmes por mês, se tomarmos como base o ano passado.
É
inegável o nível de organização dos agentes do segmento que vem
construindo parcerias duradouras e formais com instituições de grande
relevância no estado como o SESC-AP, que atua pioneiramente na cena
audiovisual estruturando ações de formação, produção e difusão de
audiovisuais, bem como com a Universidade Federal do Amapá, através do
projeto de extensão Univercinema, que aglutina ações como o
Pró-Estudante Cinegrafia, A escola vai ao cinema e projetos de produção
de vídeos que se desenvolvem fora da capital em parceria com o CPPTA –
Curso de Pedagogia de Projetos em Temas Ambientais.
Nossas
salas cineclubistas estão abertas ao público gratuitamente em vários
pontos da capital além de um ponto cineclubista em Porto Grande e outro
em Serra do Navio. Realizamos ações com resultados concretos (filmes) em
mais da metade dos municípios que formam nosso estado através de
oficinas de realização audiovisual gratuitas, ofertadas em centros
comunitários e escolas. Temos uma agente do segmento selecionada, há um
ano e meio, para o curso de Altos Estudos Cinematográficos na Escola
Internacional de Cinema e TV de Cuba, uma das instituições mais
respeitadas no ensino do Cinema na América Latina.
É possível dizer que um segmento com esse panorama não tem legitimidade?
Gostaríamos
de concluir este documento, afirmando o respeito do audiovisual para
com os demais segmentos culturais, tenham eles ou não cadeira efetiva ou
suplente no Conselho de Cultura. Temos consciência que uma palavra
chave para entender a cultura é “diversidade”. Não se hierarquiza
cultura, não se hierarquiza segmentos culturais e o audiovisual, por sua
própria constituição, compreende e defende isso: nossos filmes precisam
dos músicos e cantores daqui, precisamos da cenografia das artes
visuais, precisamos dos inspirados textos dos escritores amapaenses,
precisamos dos atores do nosso teatro. E, por fim, colocamos nossas
ferramentas a disposição de todos os segmentos que se interessem por
documentar um pouco de sua história no estado, para que incorreções como
essas, que motivaram esse texto, deixem de ser proferidas sobre
qualquer um dos segmentos que constroem diariamente a nossas referências
culturais. Saudações audiovisuais a todos!
Macapá, 22 de março de 2012
Assinam esta carta:
Entidades Nacionais:
- CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
- CBC – Congresso Brasileiro de Cinema
Entidades do audiovisual Amapaense:
- Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas do Amapá
- Liga Amapaense de Cineclubes
Festivais:
- Festival Imagem-Movimento – FIM, AP
- Festival Santa Maria Vídeo e Cinema - SMVC, RS
- Mostra do Filme Livre - RJ/SP/DF
- Festival Ratoeira/RJ
Coletivos:
- Coletivo Palafita
- Fotógrafos Anônimos
Cineclubes amapaenses:
- Univercinema - UNIFAP
- Cine Paraíso
- Cine Periferia
- Cine Poraque
- Cine Zoom na Norte
- Pium Filmes
- Clube de Cinema
- Cinemando na Amazônia
- Cine Paraíso
- Cine Periferia
- Cine Poraque
- Cine Zoom na Norte
- Pium Filmes
- Clube de Cinema
- Cinemando na Amazônia
Cineclubes de outros estados:
- Cineclube Nangetu - Belém/PA
- Cineclube da Irmandade - Ananindeua/PA
- Cineclube SMVC - RS
- Cineclube Lanterninha - Aurélio - RS
- Cineclube da Irmandade - Ananindeua/PA
- Cineclube SMVC - RS
- Cineclube Lanterninha - Aurélio - RS
- Cineclube Beco do Rato - RJ
Redes:
- Rede de Cineclubes de Terreiros da Zona Metropolitana de Belém -PA
- Projeto Azuelar/Ponto de Mídia Livre - Belém/PA
- Projeto Azuelar/Ponto de Mídia Livre - Belém/PA
Agentes Individuais:
-
Arthur Leandro/ Diretor Regional Norte do CNC e Coordenador do GT de
Comunidades Tradicionais da Federação Paraense de Cineclubes;
-
André Sandino/Coordenador do Cineclube Beco do Rato /Diretor de acervo
da Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro -Ascine-RJ;
- Alexandre Brito/ realizador independente do Amapá/ FIM;
- Augusto (Tuto) Pessoa-Lobo/ Conselheiro de Cultura [Audiovisual] do Estado do Amapá;
- Ana Vidigal - ABDeC/AP;
-
Otto Ramos / Vice Presidente do Consec, Membro do Colegiado Setorial de
Musica do CNPC/Minc, Circuito Fora do Eixo, Partido da Cultura;
- Carla Antunes/ Clube de Cinema/ FIM
- Lucila Malcher/ Professora, Pedagoga, Especialista em Tecnologia Educacional e Gestão do Trabalho Pedagógico;
- Socorro da Silva/ TV Escola Amapá;
Audiovisuais produzidos em 2011:
01 - Açucena;
Diretor: André Araújo
02 - Vale à pena?
Diretor: Lucas Penafort
03 - Última Sessão;
Diretor: Jamile Gurjão
04 - Entre Margens;
Diretores: Odivar Filho e Liliane Oliveira
05 - Memória fotográfica;
Diretora: Mary Paes
06 - Cantando na chuva;
Direção: Emília Garçon
07 - RDS Iratapuru;
Direção: Gavin Andrews
08 - Amapá: vestígios de uma guerra perdida;
Direção: Wilza Souza
09 – Vloger Fora de rota;
Diretores: Helder Ramon e Paulo Rafael
10 - Sem sinal;
Diretor: Alexandre Magnus
11 – Situação de risco
Diretor: Alexandre Magnus
12 - Doido;
Diretor: Aluízio Guimarães
13 - Canto da sereia;
Diretor: Graciliano Galdino
14 - Programa de tv Interferência
Diretor: Darlan Costa
15 - Só termina quando bacaba
Direção: Coletiva
16 – Palafita Web TV
Direção: Coletiva
17 – Deu a louca no boto cor de rosa
Direção: Aog Rocha
18 – A rosa
Direção: Dominique Allan
19 - Documentário Festival Quebramar -IV Edição
Direção: Palafita Comunicação
20 - As escravas da Mãe de Deus
Direção: Decleoma Pereira
21 - Mistério Serrano
Serra do Navio
Direção: Coletiva
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