Com aproximadamente 15 anos de
experiência, o guitarrista carioca Gustavo Di Padua é considerado uma das
grandes revelações da guitarra na atualidade. Músico competente, já passou por
bandas como Endless, Aquaria e Glory Opera. Atualmente integra o time do Almah,
desde 2012, assumindo o posto deixado pelo colega Paulo Schroeber (que precisou
se afastar pro problemas de saúde). Em 2009, ficou entre os 10 primeiros
colocados no concurso Guitar Idol, na Inglaterra, representando o Brasil por
meio de seu trabalho autoral, a música “Second Floor”. A equipe do blog Olhar
Alternativo aproveitou a passagem do músico por Macapá e realizou uma
entrevista exclusiva, a qual demonstrou muita simpatia. Ele relata sobre a
carreira, Almah, Guitar Idol, produção, ecletismo e a importância da identidade
no trabalho de uma banda. Confira!
Por Jéssica Alves e Bruno
Monteiro
Olhar Alternativo: Como foi que
você conseguiu a vaga de guitarrista no Almah?
Gustavo Di Padua: Então, na
verdade foi uma coisa bem natural. Não digo que tenha conseguido ou buscado
isso. Recebi um convite do Edu para fazer parte da banda. Como sempre toquei em
bandas de rock e heavy metal, creio que foi por aí, ele recebeu uma indicação e
agora eu estou nessa.
Olhar Alternativo: Seu show de
estréia com a banda foi no Metal Open Air, só que para muitos headbangers
aquele foi um festival marcado pelo fiasco. No caso, aquele show para você
atendeu a sua expectativa?
Di Padua: Musical ou todas?
OA: Todas.
Di Padua: Acredito que sim, para
o tempo que tivemos e a forma que tínhamos que fazer, foi muito legal. Para mim
um show atende minhas expectativas desde que eu me divirta muito. Com todas as
dificuldades que o festival apresentou como a falta de recursos que ofereceu,
não aconteceu nada do que foi prometido, por isso um fiasco. A pessoa se
compromete a uma coisa que infelizmente na hora H não consegue cumprir. Mas era
meu primeiro show na banda, eu queria fazer e me diverti, a banda tocou, o
público se divertiu muito e a vibe foi muito boa. Foi um grande show sim.
OA: Você toca não apenas metal,
mas já tocou com músicos de outros estilos, como Mauricio Matar, Kelly Key,
Sidney Magal. Você se diverte com essa versatilidade? O quão diferente é isso?
Uma hora você tá tocando metal, outra hora pop.
Di Padua: Vou chegar para nossa realidade de hoje. Tocar o meu som instrumental, de guitarra, já é uma realidade diferente, é outro universo. Imagina agora tocar com um artista que não tem nada a ver com sua praia. Me divirto muito sempre cara, porque a experiência que isso me traz me leva a enxergar as coisas de forma mais ampla. Eu acrescento isso no meu trabalho, minha identidade nesses tipos de trabalho e acrescento esses tipos de trabalho na minha identidade. Fora todo o profissionalismo e valorização, com estruturas de som, equipamento, nada que seja negativo em tocar com esses artistas mais pop. É engraçado só (risos). Principalmente com o Mauricio, Kelly Key, Sidney Magal. Alias a galera do rock adora Sidney Magal (risos). Toquei também com o Erasmo Carlos, um cara bem rock and roll. Toquei com uma galera da pesada, que não tem nada a ver com eu estilo. Mas músico é músico, tem que tocar. Se você tem valorização, uma estrutura bacana e tocar com pessoas talentosa, é outro universo, assim como em uma guitarra de seis cordas ou sete cordas. É outro universo.
OA: Você acabou de citar a sua
identidade musical nesses trabalhos. Você acredita que isso fez um diferencial
para que você ficasse entre os 10 primeiros colocados no concurso Guitar Idol
que participou?
Di Padua: É difícil te dizer qual
é o meu diferencial, o que me fez estar tanto no Almah, quanto no meio
artístico, quanto no Guitar Idol. Acho que quem tava julgando viu essa
diferença. Uma coisa que gosto é meu compromisso com a música, busco aprofundar
a melodia, o canto. Tenho um amor pela melodia. Tenho alguns diferenciais sim,
como acredito que todo brasileiro já tem um diferencial. Você falou em tocar em
Londres, um festival mundial. Isso foi um diferencial, tanto que não era apenas
um brasileiro, tinha eu, Gustavo Guerra na primeira edição, na segunda foi eu e
o Ozielzinho. O Fernando Miata também participou, outro monstro da guitarra no
Brasil. Então só tem fera lá. E tem uma curiosidade, quando começou o evento, o
processo seletivo era um. Depois passou a ser outro, virando voto popular. Isso
é estranho, porque você tem mais amigos, divulga mais e nem sempre o material
mais legal é selecionado. Devo ter alguns diferenciais sim, gosto de swing
musical, do groove, colocar isso nos shows. Gosto de rock mesmo, não tem aquilo
de mais ou menos, gosto muito. Acho que a melodia, o ritmo, unir os elementos
na minha música. Outra coisa que costumo fazer, também é achar a sua própria
identidade, achar o que você realmente é, musicalmente falando. Espiritualmente
também, Para poder divulgar, e as pessoas gostam da verdade. Isso é o diferencial.
OA: Sobre o seu trabalho como
produtor. Como é produzir tantos trabalhos de tantas bandas diferentes e
conseguir o som que elas desejam?
Di Padua: A produção é muito
legal porque é um trabalho de criação. Isso tem a ver com a verdade do artista.
Quando produzo, busco essa verdade, procuro captar essa identidade, extrair o
melhor naquele trabalho. É como se tivesse entrando na banda por um período.
Tenho algumas participações que acabo fazendo, não tem como fugir (risos). Mas
nesse período procuro extrair a verdade da banda. Aí quando acontece é um
divisor de águas, porque tem vezes que o cara tem uma boa banda, bons músicos,
boas músicas mas falta aquela identidade.
OA: É o mais importante da banda
né?
Di Padua: Nossa, é tudo. É o que
traduz a verdade da banda. Quando o próprio músico descobre qual é, as pessoas
vão acreditar, porque é legal e verdadeiro. Às vezes tem um trabalho legal, mas
se sente quando não é verdadeiro. É feito apenas para a onda, para rolar.
Quando você acha que vai rolar, já foi porque a tendência passou. Se tá na moda
fazer um som, muitos procuram esse som. E aí quando consegue fazer o trabalho,
a moda já é outra. Cadê a verdade nisso? Então esse é o diferencial.
OA: Fale para nós sobre a sua
participação recente no Rock in Rio, com o Almah.
Di Padua: Foi mágico. Para mim
foi muito especial. Quem é rock mesmo, sabe o que significa, por mais que
muitos falem que o festival não é rock, toca outros estilos. , com axé, pop.
Mas é Rock in Rio né cara? Eu nem tocava e já tinha o Rock in Rio, em 1985. Quando
toquei lá, não teve pressão. De fato me diverti demais ali. Foi muito legal,
tinha uma galera muito bacana, os amigos das bandas mandando uma ótima vibe. Senti
isso, lá tinha gente conhecida, moro no Rio e isso tem um valor. Não é só no
Rio, moro próximo de onde acontecem os shows. Essa vibração pós Rock in Rio foi
muito positiva.
OA: Como está essa interação com
o Almah e a recepção do público da banda, desde que você substituiu o
guitarrista Paulo Schroeber?
Di Padua: É natural a aceitação
do público. Vou trabalhando e as pessoas vão conhecendo meu trabalho. E com a
banda, a interação é diferente e muito legal. Não é como qualquer banda em que
os membros moram na mesma cidade. No Almah, cada um mora em uma cidade
diferente. Mas dentro desse intervalo de reunião, a interação é ótima, a gente
se fala, quando esta junto é sempre muito divertido e creio que próximo disco
traduz um pouco disso. A galera que quer conhecer a nova cara da banda precisa
conferir. A produção foi feita por todo mundo, cada um com seu instrumento,
então ali tem a alma de todo mundo. As levadas tão impressionantes. Cada um tem
sua contribuição na criação.
OA: Fazendo uma comparação, o
Almah é uma banda que nasceu como projeto pessoal do Edu Falaschi. Agora comparando
com você, começou a tocar com 14 anos, depois virou finalista de um concurso
internacional de guitarra e teve a chance de gravar seu disco solo. Como você
vê essa realização.
Di Padua: Estar na musica e fazer
só isso, ser músico, principalmente em um país que o grau de dificuldade é
alto, é uma realização. Viver de música não é fácil, é preciso abrir o leque, aprender
a fazer várias coisas e graças a Deus faço várias coisas. E posso dizer que
trabalho com produção, bandas, dou aulas e tudo ao mesmo tempo. É uma correria
e é muito legal, gratificante estar aqui hoje, tocando o meu trabalho, para um
local distante. Será que quando era moleque, imaginei que um dia estaria fazendo
o meu som, tocando guitarra para a galera de Macapá ou ir para Londres? Agora
tem algo que sou, é pé no chão. É um trabalho que me deixa muito feliz, toda
vez que faço é com muita dedicação. Trabalhar e viver de música é algo
fantástico. Fazer meu disco solo foi muito legal, cada música representa um
momento da minha vida, e pretendo lançar um cantado em breve. Tô no processo de
gravação. Esse fim de ano vai ser punk, com trabalho autoral, novo disco do
Almah e turnê na Europa. Vou correr para realmente dá conta. (risos). No Almah
a gente fez na pressão, nos reunimos em São Paulo na pré produção e na produção
cada um pode se dar ao luxo de produzir o instrumento nas cidades em que moram,
OA: Gustavo, o espaço final é
seu. Mande seu recado para a galera headbanger do Amapá.
Di Padua: Quero desejar tudo de
bom, dizer que é muito gratificante chegar aqui e vê que o movimento tá firme,
se fortalecendo cada vez mais. Há a união e investimento dos próprios fãs para
fazer a cena acontecer. Passei uma noite e um dia e pude perceber que a galera
tá se juntando para fazer bons eventos. Deixo o meu muito obrigado, é uma honra
estar aqui e continuem juntos, mandando vibrações para que possamos fazer o
nosso rock and roll, que é que todos querem.
Equipe do Blog Olhar Alternativo (Bruno Monteiro, Jéssica Alves e Núbia Paes) com Gustavo Di Padua
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