Hoje tem Brasil no OSCAR!!

Fábio Prikladnicki

Comentando a indicação de Real in Rio para o Oscar de melhor canção, em nota à imprensa em janeiro, Carlinhos Brown lembrou de Ary Barroso, que, segundo ele, “continua o mestre da Música Popular Brasileira, e nós, seus seguidores”.

Não é uma relação casual.

Tomada isoladamente, a canção de introdução do longa Rio (2011), de Carlos Saldanha, que representará o Brasil no prêmio mais célebre do cinema, no domingo, retoma os estereótipos que já haviam aparecido no uso de Aquarela do Brasil no filme Alô, Amigos (1942), da Disney. Está lá, nos dois casos, um samba irresistível ilustrado com cenas de aves coloridas que dançam sorridentes em uma paisagem idílica. A canção com a qual Real in Rio – de Brown e Sergio Mendes – disputará a estatueta é Man or Muppet, do neozelandês Bret McKenzie para o filme Os Muppets, uma balada pop tradicional do tipo que agrada ao público americano.

Este ano, são apenas duas indicadas devido ao complexo sistema de seleção. Os concorrentes a melhor canção são eleitos por representantes do meio musical após assistirem a trechos dos filmes. Cada composição recebe uma nota e deve alcançar a média de 8,25. Até cinco obras podem figurar entre as escolhidas. Se apenas uma atingir a linha de corte de 8,25, a segunda com a maior nota também é indicada. Se nenhuma conseguir, o prêmio não é entregue naquele ano.

Real in Rio é obra de dois artistas de gerações e trajetórias diferentes. Criado entre a bossa nova e o jazz, o fluminense Sergio Mendes, 71 anos, trilhou uma carreira que o tornou mais conhecido no Exterior. No cinema, fez sucesso com Mas que Nada, de Jorge Ben, que interpretou na trilha sonora de filmes como Austin Powers – 000 Um Agente Nada Discreto (1997). Já o baiano Carlinhos Brown, 49 anos, é da era pós-Tropicália. É de sua autoria Meia-Lua Inteira (“Capoeira rá-rá-rá...”), conhecida na voz de Caetano Veloso e presente no disco Estrangeiro (1989). Destacou-se na Timbalada e alçou carreira solo. Em 1997, apareceu no filme Velocidade Máxima 2 cantando A Namorada.

A música-tema do filme Rio foi composta em português, em parceria de ambos com o baiano Mikael Mutti, sob o título Favo de Mel (é a versão que aparece nas cópias dubladas). Em inglês, a música ganhou letra da cantora e compositora americana Siedah Garrett, indicada ao Oscar pela canção Love You I Do, em parceria com Henry Krieger, do filme Dreamgirls (2006).

Para economizar tempo, as canções que concorrem ao Oscar não serão apresentadas durante a cerimônia. A decisão gerou protestos dos estúdios  (Fox, de Rio, e Disney, de Os Muppets) e dos artistas indicados.

Em edições anteriores, o Brasil esteve bem representado. Caetano Veloso apresentou Burn it Blue, da trilha do filme Frida (2002), em 2003, ao lado da mexicana Lila Downs. Mas a composição de Elliot Goldenthal e Julie Taymor (também diretora do filme) não levou a estatueta, diferentemente de Al Otro Lado del Río, do uruguaio Jorge Drexler, que venceu em 2005. A canção de Diários de Motocicleta (2004), de Walter Salles, foi interpretada na cerimônia por Antonio Banderas e pelo guitarrista Carlos Santana. Como protesto por ter sido excluído da performance, Drexler cantou um trecho a capella ao receber o troféu, em vez do tradicional discurso de agradecimento.