Voltando
a pisar em terras amapaenses a WARPATH (Thrash Metal) foi novamente convidada como headliner da
primeira edição do Undergrind – O Retorno dos Malditos, que contou também com a participação da banda paraense Baixo Calão (Grindcore). Os grupos já se apresentou outras vezes por aqui e tem um público fiel. Aproveitando a oportunidade, o blog Olhar Alternativo bateram um papo nada convencional em dose dupla com membros de ambas as bandas. Acompanhe!
Por: Bruno Monteiro e Jessica Alves
Warpath
Como
foi o início da banda?
Márcio: começamos já
faz treze , quatorze anos. Começamos como MERCY KILLIN e já
tocamos em Macapá como MERCY KILLIN ma vez. De 1999 até 2004, ficamos com esse
nome e, em 2004, mudamos para WARPATH. Antes, tínhamos várias formações e, com
a WARPATH, estabilizamos, basicamente, como trio: eu, o Danilo (guitarra) e o
baterista (Willian). Temos material gravado, um CD...
(Pausa para bagunça e
risos)
(Voltando...)
Márcio: a discografia
que nós temos é essa. Chegamos a gravar um material como MERCY KILLIN depois
gravamos uma demo e um CD já como WARPATH. Fizemos uma turnê ano passado na
Europa com o BAIXO CALÃO, na qual rodamos oito países.
Houve
muitas trocas de membros ou são vocês desde o inicio?
Márcio: quando a gente
se chamava MERCY KILLIN, era mudança direto...
Danilo: Daquele grupo,
só ficou eu e o Márcio.
Márcio: o Willian
entrou alguns anos depois e ficou estabilizado nós três.
Danilo: o Willian está
tocando com a gente já tem mais de dez anos.
Quais
são as dificuldades que vocês enfrentaram e enfrentam ao longo do tempo?
Márcio: a maior é a
financeira (risos). Queremos gravar alguma coisa, mas sempre esbarra nessa
questão. Mas, em acesso a viagens, temos conseguido fazer turnês. Já fizemos no
nordeste e tem essa que fizemos na Europa ano passado. Na verdade, o que estamos
buscando mais é fazer gravações ao longo desse tempo.
Em
2011, vocês venceram uma seletiva para o Wacken Open Air. O quanto isto
representa pra vocês, poder representar o Brasil no exterior?
Márcio: é válido. Se
bem que selecionar bandas é uma coisa muito difícil, dizer “ah, essa banda é
melhor do que a outra”.
Willian: o maior não é
nem ganhar uma disputa de bandas. O que toda banda pensa quando se inscreve é
conseguir gravar um disco por uma grande gravadora e se apresentar num grande
festival: a ideia maior é essa. Esse negócio de disputa de bandas não é muito
legal.
Vocês
já abriram para shows de bandas como Torture Squad, Desaster e Violator. Qual a sensação
de fazer parte disso e tocar com elas?
Márcio: o bacana é que
criamos amizades e elos. O lado positivo é mais isso: criar esse vínculo com bandas
de outros Estados e países. Tocamos com o DESASTER em Teresina (PI) e criamos
um elo muito grande com o batera deles, o Tormentor. O básico disso é você
criar esse vínculo com essas bandas de outros lugares.
O
EP Massacre foi lançado em 2010, teve boa repercussão e ganhou boas resenhas.
Ele teve lançamento internacional?
Márcio: Diretamente,
não. A divulgação foi feita porque alguém levava. Não teve um selo que
distribuísse, mas, quando viajamos, deixamos material lá. Por sinal, lemos
resenhas de países que nem sabíamos que tinham escutado nosso som. Resenha da
Rússia, por exemplo.
Willian: Quando fomos
tocar lá, o pessoal já conhecia o disco e, depois que voltamos para o Brasil, surgiu
a oportunidade de relançar o disco, só que em LP. Desde 2010, isso foi muito
frutífero também.
Danilo: Oportunidade de
split também apareceu. Estamos negociando e estudando as propostas. O BAIXO
CALÃO tem um split com uma banda da República Tcheca.
Nos
últimos anos, o país tem passado por um revival do Thrash Metal com o
surgimento de bandas como WARPATH, BYWAR e VIOLATOR. Como vocês veem esse
ressurgimento do Metal inspirado naquele que surgiu no Estados Unidos na década
de 1980?
Márcio: Na verdade,
nunca atentamos para isso, íamos apenas tocando. Nunca decidiu “Ah, vamos tocar
que nem na década de 80, década de 90, seja lá o que for”. Ia tocando. Fazia
música sem se preocupar com esse negócio de “Ah, é 80, 90...”.
Danilo: o negócio é
fazer Thrash Metal.
Márcio: se soava como
naquela época, melhor. Não temos aquela preocupação de “Vamos fazer uns riffs
assim e tal”. Fazemos, gostamos, então beleza. Gostamos de tocar Thrash Metal
do jeito que achamos melhor.
Baixo Calão
Como foi o turnê européia com o Baixo Calão? Como foi essa experiência?
Márcio: só o fato de irmos
para lá foi muito positivo. Sabemos que não é fácil, ainda mais que somos aqui
do norte. Mas o que é bacana lá é que o pessoal gosta do som das bandas
brasileiras, eles dão valor.
Willian: é difícil pra
caramba produzir uma turnê dessa, tem que ter apoio. Apesar de árdua pra porra,
o resultado é muito grande. Estávamos tocando no berço do Thrash alemão, que é
uma influência muito grande para a WARPATH. Foi muito bacana ver um público que
está acostumado a ver as bandas que nasceram lá curtir o nosso som, foi muito
gratificante. Acabamos conhecendo muitas bandas e isso é fantástico.
Vocês
já tocaram várias vezes aqui em Macapá. Como vocês avaliam a energia do público
macapaense?
Willian: Tocamos pela
primeira vez aqui em 2007...
Márcio (interrompendo):
não, 2003, como MERCY KILLIN.
Willian: Cada vez que a
gente voltava, o público ia mudando. Sempre gente nova na cena. Isso que é do
caralho em Macapá.
A banda foi criada em 1996 e a
sonoridade era mais voltada para o Punk. Como se deu a evolução da sonoridade
até chegar ao Grindcore que é hoje em dia?
“Porco”:
Sempre quisemos tocar Grind, só que, pela nossa “alta qualidade”, não conseguia
tocar. Tínhamos que apelar para o Punk Rock até conseguir. Não tinha como tocar
porque nosso batera ou tocava a caixa ou tocava o bumbo. Quando ele tocava o
bumbo, esquecia a caixa. Aí a mudança surgiu assim. Começamos, de fato, a pegar
o feeling da coisa.
Beto:
foi também o querer de tocar Grindcore. Também ocorreu a mudança de formação, o
que ajudou totalmente.
Willian:
Hoje a gente não tem tanta técnica assim (risos), mas dá pra fazer um pouquinho
melhor. A ideia da banda é a mesma de 1996. O pessoal fala que a banda mudou
muito, já teve entrevista em blog que comentam “Ah, antigamente vocês tocavam
Punk Rock e, hoje em dia, vocês são Grindcore”. Mas a essência da banda é a
mesma, o que mudou foi só o tipo de música. A base sempre vai ser a mesma:
Punk/Hardcore. Não tem muita diferença não, é mais a parte musical mesmo, que
nem é tão importante (risos).
Vocês tocaram ano passado aqui em
Macapá no IV The Dead Shall Rise, que, por sinal, foi um show de muito
destaque. Como vocês avaliam a energia do público amapaense?
“Porco”:
Passei muito tempo da minha vida tendo contato aqui, mas nunca dava para trazer
a gente. Depois de 16 anos de banda, tem a oportunidade de vir aqui. Superou as
expectativas. O pessoal queria, ficou aquela galera que lembrava de nós, mas
avisava pra moçada: “Olha galera, não vão pensando que vamos tocar Punk Rock
que isso é de ’96, esquece isso”. Só que, quando chegou a hora, o público era
totalmente outro, com uma energia fudida mesmo. A gente saiu de alma lavada,
saca? Foi muito massa, dei valor pra caralho!
Beto:
foi muito louco, foi a primeira vez que eu viajei de avião (risos). Foi bacana,
deu uma galera que curte peso mesmo. A primeira vez que o meu nariz sangrou foi
aqui (risos). Eu pensava que nariz de negro não sangra (risos). Foi na hora que
tava tocando a banda de São Paulo, qual era o nome?
Willian:
Nervochaos.
Beto:
Nervochaos. Por sinal ajudaram muito a gente.
Willian:
eu achei que esse show surpreendeu um pouco, a mim principalmente. Um show
muito energético, muito enérgico. Foi uma troca muito porrada.
Beto:
foi uma roda violenta.
Willian:
uma das melhores que eu vi. O show foi mais do que eu imaginava.
Beto:
isso é a base do que estamos esperando hoje.
Willian:
ainda mais com essa onda de protesto (referindo-se às passeatas pela diminuição
das passagens de ônibus e contra o fim da corrupção), a galera está com sangue
nos olhos.
Beto:
e é o clima que gostamos, cara. Em Belém... Égua! Todo show dá merda, cara!
Gente que se quebra...
Willian:
alguém quebra a perna...
Beto:
menino cortou a cara, menina pegou um soco, queimam palha de aço assim (nesse
momento, Beto gira o braço por cima do corpo como se estivesse segurando palha
de aço).
A banda tem 17 anos. Como vocês
avaliam as principais conquistas e o momento atual?
“Porco”:
a maior conquista da banda é permanecer viva.
Willian:
o maior mérito é não ter acabado.
“Porco”:
isso mesmo. O maior mérito é não ter acabado porque manter banda é foda, tem
que engolir muito sapo. Essa é primeira conquista. Até em terreiro de macumba
já nos convidaram para tocar (risos). Enfim, temos a banda desde ’96 e só
conseguimos gravar em 2003. Foi quando que a gente parou e falou “Pô, vamos
gravar alguma coisa, cara? Está na hora de deixar esse ostracismo”. Aí conseguimos
gravar o primeiro disco em 2003. Belém, na época, estava no auge do Metal e a
galera dizia “Vocês estão doidos de praticar um estilo que a galera não curte”.
Aí eu falava: “O importante da banda, primeiro, tem que ser os músicos, porque
se você quiser tocar só para os outros, a sua banda vai acabar”. Depois disso,
veio o Discrença, que foi bacana. Depois
veio o Tu Crias, que foi a hora que ficamos
mais responsáveis e entramos de cabeça no estúdio. No Atmo, de fato, foi aquele feeling programado, com tabelinha.
Beto:
o ano que lançamos o Atmo foi o ano
que fizemos a turnê.
“Porco”:
Foi uma grande bandeira de conquista. Teve o show do Ratos (de Porão), que foi
nossa pré-conquista, ter tocado num showzão. Muito gente de Belém, apesar dos quinze
anos que tínhamos, nunca tinha nos visto. Teve a oportunidade de ver no Ratos e
falava “Égua! Vocês tem quinze anos?” E eu respondia “É, tem sim!”. A turnê, para
a maioria que olha de fora, vai dizer “Ah, foi a maior conquista deles”. De
fato, é uma coisa fudida. Estávamos lisos! (risos). Passar trinta dias lá na
Europa, pirando e...
Beto:
comendo bem, bebendo bem, fumando bem (risos).
“Porco”:
tocando pra cacete...
Willian:
vivendo só o que ouvíamos falar.
“Porco”:
vivendo coisas que eu lia em zine e, de repente, estávamos lá. Olhava e pensava
“Pô, saímos da puta que pariu e, chegando lá, os caras compram camisa, compram
CD, nos tratam bem, mesmo com o nosso português bem dizido. E eles tentando
entender da forma mais paciente do mundo nosso “the book is on the table”,
principalmente o meu. Mais uma conquista: vamos lançar um split em vinil. Vai
ser lançado lá fora, fruto da turnê. Agora a próxima missão é de trazer ele para
cá. Enfim, é mais outra conquista nossa.
Como vocês avaliam a cena
underground de Belém?
“Porco”:
hoje, pelo menos, tem bandas de vários estilos, tem público para Grind, tem
público para som extremo. O público vai, paga. Teve uma época que tinha um
marasmo fudido em Belém: todas as bandas queriam ser as mesmas, montavam a
banda pensando em público.
Willian:
em ’98, tínhamos que fazer show na pracinha porque não tinha show em Belém.
Pegava bateria velha, botava lá e ainda chamava umas 15 bandas de outros
bairros para tocar, porque Belém não tinha nada, até então.
“Porco”:
hoje tem shows com várias bandas, o público presente, comprando camisa, CD,
material...
Willian:
o underground não está mais tão underground. Hoje em dia, está muito
profissional agora. Produtores de shows estão tentando chegar mais perto do
profissionalismo. Apoio, estrutura, distribuição, bandas estão gravando e sendo
distribuídas... está melhor agora.
“Porco”:
antigamente, a estrutura era totalmente desdentada, era no osso mesmo, aquele
microfone da Xuxa (risos)
Beto:
Na época que eu entrei, em 2002, era uma parada dividida: o pessoal do Metal e
o pessoal de um Hardcore meio melódico, que não é muito a minha cara. O BAIXO
CALÃO era do Metal, tocava Grindcore e tinha idéias punks.
Willian:
hoje em dia, a cena está misturada, somando cada vez mais: é público de Metal,
Hardcore, Grindcore... tudo misturando, fortalecendo os shows.
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