Texto - Jéssica Alves
Na última quarta-feira,11, o Angra lançou oficialmente o seu sétimo lançamento de estúdio (excluindo EPs e Demos). Quatro anos depois do ótimo "Aurora Consurgens"(2006), o quinteto assumiu por conta própria a produção do álbum. E como fã confessa da banda, sou mais do que suspeita em dizer que foi uma escolha muito acertada.
Criativos como sempre, os meninos retornaram a uma fórmula já conhecida da banda. Muitos poderão dizer que é um exagero, mas comparo o "Aqua" com o álbum "Holy Land" (1996), ainda com Andre Matos no vocal, onde a banda investia em músicas bem melodiosas e saindo um pouco do peso sobressalente.
Elementos clássicos, sempre esperado quando se fala de Angra, estão presentes. Mas eles ampliam a flerte em rock progressivo, que foge de refrões fáceis e simples ritmos. Como sempre, a banda põe em seu trabalho elementos sonoros etnicos brasileiros. E como disse alguém por ai "É o Angra seguindo para o futuro, mas sem deixar o passado de lado"
Além da sonoridade ética, o álbum traz de volta o único conceito, repetindo seguidamente o que acontece com a discografia, desde "Rebirth" (2001), mas iniciada pela banda ainda em "Holy Land".
No caso de "Aqua", a opção foi contar a história de "A Tempestade" considerada a última peça do escritor inglês William Shakespeare e que mistura amor e vingança em uma trama ambientada numa ilha habitada pelo poderoso mago Próspero e sua filha Miranda.
O guitarrista, Kiko Loureiro, explica: “Apesar de toda a intimidade que temos, somos todos compositores bem diferentes. Trabalhar um conceito único ajuda a manter todos num mesmo foco, caminhando musicalmente numa mesma direção".
A respeito deste trabalho em grupo, o vocalista Edu Falaschi reflete a opinião de todos ao dizer que, quase dez anos depois, a relação desta “nova” formação reunida desde o disco “Rebirth” continua melhorando a cada dia. “A gente se entende cada vez melhor, já sabe o que fazer em termos de arranjo, o que encaixa ou não”, complementa o baixista Felipe Andreoli. “Melhorou a facilidade e a familiaridade com que a gente faz as coisas. Estamos cada vez mais entrosados”, diz Kiko. “Para este disco, tínhamos muito mais material, muito mais canções que pudemos colocar na mesa para selecionar o repertório final”, afirma.
E embora uma parcela catastrofista dos fãs afirmasse que a participação dos integrantes da banda em diversos projetos paralelos (Almah, Bittencourt Project, Freakeys, Karma) pudesse anunciar o fim do grupo, os músicos discordam. Para eles, este tipo de atividade só ajudou a trazer novas experiências e sonoridades ao Angra – que, eles fazem questão de frisar novamente, é a sua atividade principal.
“Mais do que músicos do Angra, somos todos músicos. Nossos amigos também são músicos, são pessoas que curtem tocar. A música, para nós, acaba não sendo apenas trabalho, mas também é hobby”, explica Felipe. “Pra nós, tocar é mais do que música, é um lance de estar com os amigos, com pessoas que gostamos. Quando não estou tocando no Angra, estou tocando com o Kiko, com o Rafael, com o Edu, com outros amigos”, conta.
O disco em si
Definitivamente, a impressão que muitos tiveram com "Arising Thunder" para ser a single e a cara do álbum é que essa decisão foi equivocada. Logo que se chega a terceira faixa, há uma certa razão nisso. Claro que "Arising Thunder" é uma ótima música. Mas ao chegar à terceira faixa “Awake from Darkness”, podemos ver que ela serviria muito bem para ser a representante do álbum. Mas também fico pensando se esta não foi uma jogada pensada da banda, para guardar as (boas) surpresas que tivemos dos álbum??
A música começa com a batida de baião, cortesia de Confessori, deixando claro o brasileirismo - marca registrada do Angra - . O baixo ritmado de Felipe pega pesado, as guitarras de Kiko e Rafael são ganchudas – e ainda somos surpreendidos por um interlúdio de piano/violino pré-solo, bem no meio da canção. A mesma sensação causa “The Rage of the Waters”, que mistura pitadas de música nordestina com uma furiosa levada de metal tradicional. Muito bom hein??
"Hollow" chega com um furioso riff de trash metal que pelo menos uma canção do Angra, em cada disco, deve ter rsrsrs. Mas a violência abre espaço, harmoniosamente para uma guitarra clara e cristalina.
Lembra um tanto "The Shadow Hunter" a canção "Spirit of the Air". Iniciando com uma levada espanhola, indo e voltando facilmente da porrada para a balada, caminhando para uma quebra épico-pomposa com direito a coral e fechando com um tema meio árabe. E o que poderia ser uma mistureba sem tamanho funciona perfeitamente integrada.
Confesso que quando Edu canta as primeiras palavras da música, seu tom de voz lembrou muito o Andre Matos. Mas é so no início mesmo hahaha
“Weakness of a Man” já é comparada com "Make Believe", não por ser parecida em si, mas por momentos mais leves, até um tantinho pop (sem ofensas bangers tradicionaistas), mas não menos heavy metal.
"Lease to Life" é uma linda canção viagem, em especial pela guitarra que, antes do solo meio rock ‘n roll, arrisca até uma levada meio bossa nova.
E “A Monster in Her Eyes” mostra uma impressionante variação na interpretação de Edu. Ele começa quase declamando, como um bardo, em tom medieval, mas depois vem com tons agressivos e cheios de furia, relembrando desempenhos de... Almah rsrs
E para fechar com chave de metal (não curto ouro), a poética "Ashes"Com teclado sinistro, já vem a dica do que segue a faixa. O vocalista aproveita a letra que fala justamente sobre o último ato da peça para entregar uma performance etérea, um musical com clima sombrio, do tipo ópera-rock. Genial!
Muitos podem até descordar de mim, mas falo que o "Aqua" não é um disco fácil de se gostar na primeira ouvida. Porém, deve ser ouvido com toda a atenção do mundo, analisando cada detalhe.
E digo mais, a banda é tão performática e variável, que não da para classificar o album disso ou daquilo. É o Angra e pronto. Sempre provando o que uma excelente banda é capaz de fazer . E eles fazem