O espetáculo "Cordel do Amor sem Fim", adaptação da obra de Cláudia Barral, foi apresentado pela Cia de Teatro Cores na Rotunda. Dirigida por Ton Rodrigues, a peça uniu a comédia dell ´Arte (gênero teatral única no mundo, que surgiu na Itália, início do século 16, e é baseado na improvisação e no uso de máscaras, que tem personagens fortemente estereotipados) com a literatura de cordel (poesia popular, que surgiu no sul da França, no século 17, são transmitidas cantigas e poemas na forma de escrita, narrando uma história).
A empreitada do grupo é uma inovação para o teatro amapaense. Em 5 anos acompanhando de fato o que rola pelo mundo teatral por aqui, nunca tinha visto, principalmente, algum grupo explorar a comédia dell´arte. É realmente um trablaho difícl, que exige muito esforço físico, com trabalho de corpo e voz.
A história é simples, daqueles amores de interior, viajando pelo universo nordestino, na cidade de Carinhanha, sertão da Bahia, às margens do rio São Francisco. O contador e seu amigo violão, com fantasiosa forma, conta e canta a história das três irmãs, Teresa, Carminha e Madalena.
No melhor estilo “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade, Carminha ama José, que ama Tereza, que ama Antônio, um viajante por quem ela se apaixona no porto da cidade, no dia em que um almoço marcaria o pedido de casamento feito por José.
É a partir deste ponto que fica evidente como Carminha renova suas esperanças por José; e que Madalena, a mais velha, procura evitar que Tereza viva de uma vã promessa, à espera no porto pela volta de Antônio. Madalena via no casamento da irmã a possibilidade de concretizar os próprios sonhos não realizados.
Toda a trama então se desenrola em função desse tempo de espera e de esperanças. Tereza é tocada por um desejo sem medida, que a faz viver todos os dias em função dele. A certa altura, ela afirma: “o tempo é coisa que não tem medida”. O mesmo se diz do amor.
Em um espetáculo, temos drama, comédia, ação (com divertidas cenas de luta entre Carminha e José) e suspense. A resposta do público foi imediata com aplausos, gritos e risadas. Um show para a iluminação de neon, que deu um efeito especial ao figurino preto e branco das personagens. E também no público.
Digo que valeu a pena cada minuto que passei naquele teatro, onde gastei apenas 10 reais para ver um show de cultura e entreetenimento. Com todo o respeito a quem gosta, mas prefiro mil vezes assistir a uma obra teatral do que gastar 200 reais para apenas beber, pular e ver a atração principal tão longe, em cima de um trio elétrico, sem nenhum ganho cultural.
A quem ainda não viu, recomendo, vale a pena passar uma hora admirando o trabalho desses talentos da dramaturgia amapaense, que tem tudo para crescerem profissionalmente, tanto aqui como lá fora. Só precisam de apoio e respeito. Não apenas dos governantes, mas do público também.
A peça vai continuar em cartaz durante todo o mês de setembro, no Teatro porão do Sesc Axará, a partir das 20h. Vai lá, vale a pena mesmo. Aproveita e valoriza o que há de bom aqui na nossa terra tucuju. Você não vai se arrepender.
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