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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Especial - 30 anos de Kill 'em All


Revolucionário. Essa é a melhor palavra para definir o primeiro disco do METALLICA, que neste ano completa 30 anos de lançamento. Um dos divisores de águas da história do Metal, Kill ‘em All ajudou a definir o conceito que muitos hoje conhecem como Thrash Metal. Antes, nenhum fã sabia definir direito o som do METALLICA, palpitando algo como “um MOTÖRHEAD mais rápido” ou “RAMONES versão Heavy Metal”.

Independente disso, a banda ascendeu rapidamente ao topo do Thrash da região onde este som nasceu e era praticado, a San Francisco Bay Area (Baía de São Francisco), compartilhando a mesma paixão com músicos como Paul Baloff (EXODUS), Alex Skolnick (TESTAMENT) e Dennis Pepa (DEATH ANGEL). Originalmente, o quarteto surgiu em Los Angeles, mas mudou-se para São Francisco após a entrada de Cliff Burton.

Primeira foto oficial do Metallica: Kirk Hammet, Cliff Burton, Lars Ulrich e James Hetfield


O início

Tudo começou quando Lars Ulrich, um dinamarquês filho do tenista Torben Ulrich, se mudou para os Estados Unidos em setembro de 1980. Seu primeiro contato com a bateria havia acontecido anos antes quando ganhou um kit de seus avós. Ao se mudar, o baterista publicou um anúncio num jornal chamado Recycler para formar uma banda de Metal, que valorizasse o estilo e que seguisse carreira no gênero.

Uma das respostas ao anúncio veio de James Hetfield. James já havia participado de algumas bandas como Leather Charm e Phantom Lord, montadas com colegas de colégio, sendo o Phantom Lord sua primeira experiência como guitarrista/vocalista. Outro que respondeu ao anúncio foi Hugh Tunner, amigo de James. Os três marcaram uma jam na casa de Lars, mas este primeiro encontro foi um fiasco, pois Lars ainda não sabia tocar adequadamente. Somente um ano depois James e Lars voltariam a se encontrar para gravar material para o METALLICA (que sequer havia começado).

A primeira formação: James Hetfield, Ron McGovney, Lars Ulrich e Dave Mustaine

Já o nome tem uma origem cômica: dois amigos de Lars, Ron Quintana e Ian Kallen, queriam lançar um fanzine sobre Metal, mas estavam sem nome para a publicação. Ambos fizeram uma lista no qual continha os nomes Metallica e Metal Mania. Através de um sorteio entre os colaboradores, o nome vencedor foi Metallica, mas Lars sugeriu que Metal Mania ficaria melhor e o baterista, então, pegou o nome vencedor para sua banda. Antes disso, várias foram as sugestões dadas: Thunderfuck, Helldriver, Blitz, Red Veg, Steeler, Grinder...


As dificuldades
            
Gravar um disco inclui uma série de dificuldades e obstáculos: financeira, geográfica, logística, qualidade de instrumentos e do estúdio onde vai ser gravado, por exemplo. As demos lançadas anteriormente pela banda antes de Kill ‘em All ajudaram a consolidar o nome do grupo como um dos melhores (senão o melhor) do Thrash Metal. Mas para chegar dos primeiros ensaios até a gravação do disco, foi um longo caminho percorrido.
            
O som do METALLICA não era aceito em Los Angeles, visto que o lugar estava infestado com bandas de Glam Rock. Devido isso, mudaram-se para São Francisco, no qual bandas com a mesma proposta que a de Lars Ulrich e Cia. surgiam. Os próprios membros não dominavam completamente seus instrumentos. James Hetfield, por exemplo, era inseguro quanto a sua voz e não sabia se tocava guitarra ou cantava, o que o fazia errar notas e esquecer alguns trechos das letras.


            
Havia também a briga de egos entre James Hetfield e Dave Mustaine (que integrou o grupo depois de Lars ter colocado um segundo anúncio no mesmo jornal). Este contribuiu em muitas das composições do começo da carreira do METALLICA, mas estava bêbado e drogado na maior parte do tempo, o que atrapalhava os shows do grupo, sendo substituído por Kirk Hammet (ex EXODUS). Outro empecilho também enfrentado eram as constantes mudanças de cidade.

James Hetfield e Dave Mustaine em ação

Gravação

Originalmente, o álbum se chamaria Metal up your Ass (Metal no seu rabo) e a capa trazia o desenho de um vaso sanitário com uma mão segurando um punhal, mas o distribuidor da Megaforce (gravadora do full lenght em questão) recusou o serviço, alegando que a capa e o nome eram ofensivos. Foi então que Cliff Burton, enfurecido ao saber disso, soltou: “Why don’t we just kill ‘em all?” (Por que a gente não mata todos eles?). A frase teve impacto tão grande em todos que pegaram a sentença (kill ‘em all) para nomear o disco.

Já a capa foi mudada por James e Lars e é a que conhecemos hoje, a poça de sangue com o martelo e a sombra da mão. A capa e o nome originais podem ser vistos estampadas em camisas. Metal up your ass também era usado constantemente por Hetfield para atiçar a platéia e interagir com ela.


O estúdio usado para gravar Kill ‘em All foi indicado por Joey DeMaio (MANOWAR) e chama-se Music America Studios, localizado em Nova York e de propriedade de Paul Curcio. Este também produziu o debut, apesar de não ter familiaridade com o Metal, mas sabia operar os equipamentos. O orçamento usado também surpreendeu a todos: apenas 18 mil dólares.

Graças a muito esforço e perseverança, conseguiram gravar o material em três semanas (10 à 27 de maio). Alguns fatos curiosos rondam a gravação do disco: Lars jura até hoje que o salão oval do estúdio era assombrado e pedia para alguém ficar perto dele, pois, do nada, os bumbos e os pratos começavam a tocar sozinhos. Cliff não deixou ninguém ouvir seu solo de baixo até que ficasse pronto (o solo em questão é Anesthesia [Pulling Teeth]), ficando trancado e sendo observado pelo vidro. Para esta composição, o baixista usou pedais de guitarra para ampliar a distorção. Oficialmente, Kill ‘em All saiu no dia 25 de julho de 1983.


De Hit the Lights à Metal Militia

Kill ‘em All apresenta todas as faixas que faziam a festa dos banguers da Bay Area. O grupo já tinha alguns esboços de Ride the Lightning, The Call of Ktulu e Fight Fire with Fire, mas estavam incompletas, por isso o METALLICA optou por deixá-las para o próximo disco. Em resumo, o álbum tem influencia do Metal Britânico, de bandas como IRON MAIDEN, MOTÖRHEAD, SAXON, JUDAS PRIEST e DIAMOND HEAD, sendo esta última a principal influência do quarteto, e é um Thrash/Speed Metal pra não deixar ninguém parado.

A faixa de abertura é Hit the Lights, uma música pra festejar mesmo, com solos nos intervalos entre uma estrofe e outra, com sua melodia e rapidez marcantes, foi a primeira composição oficial da banda. Logo após, vem The Four Horsemen, faixa marcada pela polêmica de ter sua letra reescrita por Hetfield por se tratar de uma música, originalmente, composta por Dave Mustaine e que depois apareceu no disco de estreia do MEGADETH sob o nome Mechanix.


Três diferenças entre as duas versões: a letra, o tempo de execução (a do MEGADETH é mais rápida) e um trecho sonoro; enquanto The Four Horsemen tem riffs e solos cadenciados no meio, Mechanix tem uma intro diferente da melodia principal.

O terceiro petardo é Motorbreath, composição inteiramente de James e que mostra um grande desempenho vocal, visto que, na época, ele ainda mostrava grande insegurança acumulando as duas funções. A próxima é Jump in the Fire e é um pouco destoante das demais músicas: mostra mais influências do Metal tradicional, mas nem por isso deixa de ser uma ótima música.



A supracitada Anesthesia (Pulling Teeth) de Cliff Burton era a próxima e dava uma acalmada no disco para então entrar chutando tudo novamente com Whiplash, composição rápida e agressiva que falava da experiência de estar num show de Metal, resumindo bem o que acontecia nas performances da Bay Area.

Phantom Lord, composição inspirada no nome de uma das bandas de Hetfield, assim como The Four Horsemen, tem um trecho cadenciado no meio (em ambos os casos, a banda, atualmente, não executa essas passagens ao vivo). A faixa exala rapidez e agressividade, assim como todas as outras, culminando com o grito desesperado do vocalista “Fall to your knees and bow to the Phantom Lord!!!”.


O full length segue com No Remorse (com um solo fenomenal logo no início e uma enxurrada de riffs certeiros e cortantes perto do final), o hino Seek and Destroy (praticamente obrigatória em todos os shows) e a super rápida Metal Militia, no qual James canta sobre espalhar a mensagem do Heavy Metal pelo mundo todo.

No quesito produção, Paul Curcio, apesar de não entender muito bem de Metal, não deixou a desejar e o disco saiu com uma boa qualidade para a época. Mesmo com a saída de Dave Mustaine para a entrada de Kirk Hammet, as composições não mudaram muito, pois a maioria foi composta por James e Lars. Mesmo assim, os créditos foram devidamente dados ao agora frontman do MEGADETH.


Repercussão
            
Muitos amaram o disco, outros nem tanto por estarem acostumados com as versões demos das músicas e estranharem o trabalho mais refinado. Diferenças a parte, o fato é que Kill ‘em All abriu as portas para o Thrash Metal como um movimento cultural a ser reconhecido e respeitado, caindo como uma bomba nuclear no cenário musical dos Estados Unidos e influenciando as demais bandas que haviam no local. Só nas primeiras horas do dia do lançamento, o álbum vendeu 7 mil cópias. A imprensa especializada também o elogiou à exaustão, chamando-o de “o verdadeiro nascimento do Thrash”.

As diferentes prensagens de Kill 'em All lançadas pela Megaforce Records

O disco também saiu na Europa, pegando os banguers de surpresa. Os ingleses que haviam inspirado o som do METALLICA agora estavam espantados com a qualidade do grupo. Nesse continente, o quarteto ganhou diversos prêmios e a Megaforce ganhou diversas propostas de outras bandas, como ANTHRAX, MANOWAR e RAVEN. Para a promoção de Kill ‘em All, o proprietário da Megaforce organizou uma turnê pelos Estados Unidos com METALLICA e RAVEN (que lançara o disco All for One).
            
A tour foi batizada de Kill ‘em All for One (agregando os nomes dos dois lançamentos), começou em 27 de julho e durou três meses. O METALLICA continuou a turnê sozinho e ela durou até Janeiro de 1984. Ao terminar essa turnê, a banda emendou com uma tour européia, chamada de Seven Dates of Hell e, de lá, preparou-se para gravar o segundo disco. Era a vez dos ingleses renderem-se a essa nova avalanche musical chamada METALLICA.




Legado
            
Para comemorar o aniversário, a banda, em parceria com a fabricante de sapatos Vans, lançou um modelo de tênis trazendo estampada a capa do disco. O Orion Music and More foi um evento criado especialmente para este aniversário que contou com o set list normal e o full lenght tocado na íntegra.


         
Um tributo também foi lançado sob o nome de A Tribute to Kill ‘em All e contou com a participação de bandas como ANTHRAX, MOTÖRHEAD, PRIMAL FEAR e CANNIBAL CORPSE. A banda NITROMINDS também se inspirou na arte do debut para nomear um de seus discos como Kill Emo All (uma brincadeira com a pronúncia do nome).




Não há dúvidas quanto à importância que este disco tem no Heavy Metal. O METALLICA liderou uma geração inteira de metalheads com seu som inovador e agressivo e conseguiu colocar no mainstream um estilo que estava fadado ao underground e que não era, aparentemente, viável comercialmente. Único e desafiador, Kill ‘em All foi só o ponto de partida para uma carreira sólida e de muito sucesso, seguido por discos que se tornariam essenciais dentro do Thrash Metal. Parabéns, Kill ‘em All!



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